sábado, 26 de julho de 2014

O mito da “revolução coperniana” anti-religiosa e anti-católica

 

Escreve-se aqui:

“Kant lamenta que a metafísica, apesar de toda sua antiguidade, não tenha tido o mesmo progresso que a matemática e as ciências da natureza.”

Ou seja, para Kant, a matemática e as ciências da natureza não fazem parte da metafísica — e por aqui se vê a indigência do pensamento de Kant!

Kant não conseguiu ver que os desenvolvimentos da matemática e das ciências da natureza são constitutivos do próprio desenvolvimento da metafísica — porque qualquer negação da metafísica é sempre uma forma de metafísica, por um lado, e por outro lado porque o critério segundo o qual “a significação é a verificação” não é, ela própria, verificável. A metafísica está subjacente à verificação científica!

A “razão” — no sentido de “racionalismo” kantiano, e não de “racionalidade” — não tem razão sobre a experiência; mas a observação ou a experiência também nem sempre têm, mesmo necessariamente, razão sobre a “razão”.

A racionalização (por exemplo, a kantiana) caracteriza-se por um excesso de lógica em relação ao empírico e pela recusa da complexidade do real. Para contornar a complexidade do real, Kant dividiu a realidade entre “fenómeno” e “númeno”, e atirou a metafísica para o campo da religião. A racionalização pretende que o real obedeça às estruturas simplificantes do espírito de cada época.

A ideia kantiana segundo a qual “o entendimento cria as suas leis (as leis da natureza), não a partir da natureza, mas impõe-lhe-as” (Crítica da Razão Pura), está na base da racionalização (e não de racionalidade) das actuais ideologias políticas que pretendem impôr ao real a “lógica de uma ideia” e a subjectividade de uma qualquer coerência lógica aparente e unívoca.

“As nossas teorias científicas, por melhor comprovadas e fundamentadas que sejam, não passam de conjecturas, de hipóteses bem sucedidas, e estão condenadas a permanecer para sempre conjecturas ou hipóteses”.

— Karl Popper

O conceito de “revolução coperniana”, segundo Kant e entendido no sentido antitético em relação à posição da Igreja Católica do tempo de Copérnico, é um mito.

Se partirmos da perspectiva moderna e actual, e segundo o conceito de paradigma de Thomas Kuhn, verificamos que a reacção do Papa Urbano VIII às teses de Galileu foi absolutamente correcta.

Mais: as teses de Copérnico receberam o imprimatur (foram autorizadas pelo Papa!) porque foram formuladas como hipóteses. Porém, Galileu não quis formular quaisquer hipóteses , mas afirmar verdades absolutas — e isto numa época em que a hipótese de Ptolomeu podia explicar melhor muitos fenómenos celestes.

A Igreja Católica, naquela época, defendeu a concepção científica mais moderna embora se tenha atido a concepções cosmológicas erradas.

O mesmo critério da Igreja Católica do tempo de Urbano VIII é utilizado pela actual ciência, por exemplo, quando defende dogmaticamente o darwinismo. Portanto, verificamos, hoje como no tempo de Copérnico, que sempre existiram e existirão paradigmas que não correspondem à realidade.

1 comentário:

  1. Divulguei:

    http://historiamaximus.blogspot.pt/2014/08/o-mito-da-revolucao-coperniana-anti.html

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